O Globo: quando é a hora de trocar o consultório de dermatologia pelo de cirurgia plástica?

Especialistas e pacientes avaliam prós e contras de decisões sobre tratamentos estéticos e intervenções cirúrgicas

Quando é a hora de trocar o consultório de dermatologia pelo de cirurgia plástica? Imagem Shutterstock

Quando é a hora de trocar o consultório de dermatologia pelo de cirurgia plástica? Imagem Shutterstock

RIO — A estilista Daniela Almeida, de 58 anos, começou a cuidar da pele há 16, quando abandonou os três maços de cigarro que fumava por dia e o excesso de sol a que expunha a pele. Deu início a uma rotina de beleza e a tratamentos para flacidez e retirada de manchas, por orientação da dermatologista Roberta Bibas. Com o passar do tempo, foi aderindo aos procedimentos com fios de sustentação e de tração, que promovem o efeito de um lifting e estimulam a produção de colágeno, feitos pela irmã de Roberta, a cirurgiã plástica Rafaela Bibas.

— Sou apaixonada pelos procedimentos com fios, sinto muita diferença. Mas chegou um estágio em que eu precisaria fazê-los de seis em seis meses — relata a moradora do Humaitá.

Então, ela conta, sentiu que era hora de se render ao bisturi. E decidiu fazer um lifting no rosto e no pescoço no fim do ano.

— Achava que tinha que aceitar a passagem do tempo. Mas, se estou incomodada, por que não fazer uma plástica? Tenho que pensar em me sentir bem, independentemente do que os outros pensam. Não é uma bobagem se vai me fazer feliz — afirma.

Ela diz que o único pedido é ficar com aparência de uma jovem senhora, e não de uma garota:

— Não quero ficar muito esticada, só aparar as arestas. Confio demais em Rafaela e Roberta. Elas são muito cuidadosas e responsáveis e respeitam o desejo do paciente.

Para Roberta, que atende no Leblon, o limite entre os tratamentos dermatológicos e a cirurgia plástica é a satisfação do paciente após um procedimento estético:

— Com o passar do tempo, a pele vai ficando mais flácida, os poros vão ficando mais abertos, e os resultados estéticos já não são mais os mesmos. Acho que essa costuma ser a hora de fazer uma cirurgia, porque o paciente tem um resultado mais duradouro.

Rafaela, que divide a clínica com a irmã, destaca que antigamente os pacientes costumavam ser operados aos 45, 50 anos. E que, hoje, com o avanço da tecnologia e a chegada de tratamentos dermatológicos à base de bioestimuladores de colágeno e de radiofrequência, por exemplo, a cirurgia foi postergada em mais de uma década:

— Hoje, é raro ver pessoas fazendo mais de uma plástica no rosto, porque elas entenderam que nem tudo é cirúrgico. Focam em tratar a pele, o que não acontecia tanto antigamente, por falta de opções.

A empresária Liane Costa, de 59 anos, chegou a ir ao consultório do cirurgião plástico Leonardo Bravo, no Leblon, há cinco anos, mas acabou sendo redirecionada para a sala da mulher dele, a dermatologista Bruna Bravo. E segue por lá.

— Detesto cara plastificada e não gosto de cicatriz. Vou fazer tudo o que for possível em termos de tratamento para dar uma “levantada” até achar que preciso “entrar na faca”. Por enquanto, acho que dá para ir segurando — diz a sul-mato-grossense radicada no Rio. — Bruna e Leonardo são muito criteriosos e passam a maior confiabilidade

Muitos pacientes optam pelos tratamentos, diz Bravo, por não envolverem internação, corte, nem o desconforto e as manchas roxas de um pós-operatório:

— A cirurgia é indicada quando o paciente já fez todos os procedimentos de cosmiatria possíveis. Se vejo que existem opções mais convenientes, sugiro a alternativa. Porque, ao contrário dos tratamentos, a cirurgia é uma via de mão única, não tem como desfazer.

Bruna exemplifica lembrando que, na dermatologia, há alternativas, para a rinoplastia, cirurgia plástica na estrutura nasal:

— Há procedimentos não invasivos, como a rinomodelação (preenchimento com ácido hialurônico), que permite elevação da ponta ou retificação do dorso do nariz. Traz resultados satisfatórios sem a necessidade de um corte.

Harmonização facial e a hora de parar

A dermatologista Karla Assed está casada com o cirurgião plástico André Barbosa há 28 anos e conta que os dois, que atendem em Ipanema, trabalham juntos há 24. Sempre de forma complementar.

— Em procedimentos que reposicionam a estrutura da face, como os fios de sustentação ou as técnicas de harmonização facial, eu gosto sempre de ter o olhar dele. E o contraponto também acontece. O pós-operatório de uma cirurgia pode ter um resultado muito melhor e com menos edema com orientação dermatológica —afirma Karla.

As técnicas de harmonização facial, aliás, que vão desde o preenchimento de olheiras ou lábios à redefinição do contorno da mandíbula, podem ser realizadas tanto por dermatologistas quanto por cirurgiões plásticos. E devem ser empregadas de forma muito cautelosa, frisam especialistas.

Chefe do serviço de cirurgia plástica do Hospital Municipal Souza Aguiar e coordenadora do curso integrado de cirurgia plástica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Irene Daher destaca que os procedimentos devem ser feitos quando a pessoa busca uma face mais proporcional. E alerta para a importância do respeito aos limites do corpo de cada um.

— Por serem procedimentos não invasivos, muitos pacientes acabam querendo mais e mais e entrando no dismorfismo. É preciso ter muito critério porque a aplicação excessiva de produtos também pode causar complicações graves, como necrose da pele, cegueira e infarto cerebral — diz a cirurgiã plástica, que ministra um curso intensivo anual de cosmiatria em seu consultório, em Botafogo.

Paciente de Irene há quase oito anos, a técnica de enfermagem Symone Vieira já fez preenchimento de olheiras e de queixo. Achava o seu fino demais em relação ao tamanho do seu rosto e se diz satisfeita com o resultado:

— Ela tem uma mão muito leve. Você se senta na cadeira segura de que vai sair como quer.

Para o dermatologista Daniel Coimbra, professor no Ambulatório de Dermatologia e Cosmiatria do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay, na Santa Casa do Rio de Janeiro, “a harmonização facial acabou por se tornar receita de bolo”.

— A padronização facial, estimulada pelas redes sociais, está deixando todo mundo com a cara quadrada e pode trazer alterações ruins no futuro. Muito volume em regiões que pesam ao longo do tempo, como mandíbula e queixo, pode virar uma papada — alerta o dermatologista, que atende na Gávea.

O empresário Igor Ferraz fez um preenchimento de mandíbula com Coimbra há quase um ano. E conta que procurou o dermatologista porque queria um resultado discreto:

— Ele é muito cuidadoso em não exagerar. Meu maior receio era ficar com a mandíbula muito grande. Mas ele não mudou meu rosto, só deu uma melhorada no desenho.

Fonte: O Globo
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