Propósito Renovado

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Ao abandonar o discurso de rejuvenescimento milagroso, a indústria da beleza aposta em uma geração de cosméticos que promete trabalhar a saúde da pele. As novas composições equilibram ativos sintéticos e naturais, influência dos consumidores conscientes e apostam em fórmulas enxutas e poderosas. A seguir as principais tendências do mercado – e uma seleção de seus expoentes. Tudo para ser incorporado à rotina de cuidados em casa, claro.

Texto Larissa Nara

As preocupações climáticas e ambientais dos millennials está chacoalhando várias indústrias – a de beleza talvez seja a principal delas. Por isso, muitas marcas vêm apostando há alguns anos, em cosméticos orgânicos, veganos, naturais e ‘cruelty free’. O consumo ético foi, inclusive, uma das principais macro tendências apontadas pela agência de pesquisa WGSN no ano passado. Para a indústria, isso se traduz em menos testes de laboratório em animais, maior uso de matéria-prima vegetal e orgânica. Mas ainda que os ingredientes naturais tenham ganhado protagonismo nas fórmulas, os laboratórios ainda não abandonaram o uso de componentes sintéticos, em geral por razões de segurança. Segundo Sonia Corazza, engenheira química e cosmetóloga, de São Paulo, é importante entender que um composto sintético não é necessariamente ruim, assim como um natural não é obrigatoriamente bom. “Por exemplo, os derivados de petróleo são naturais, mas sabemos que não fazem bem á saúde. Isso quer dizer que as fórmulas limpas – livres de ingredientes tóxicos – não são necessariamente de fontes biológicas. “Dentro das formulações existem muitas substâncias que a gente não consegue, e nem precisa, substituir por naturais, como é o caso dos sequestrantes – agentes químicos que ajudam a mater o prazo de validade em dia”, completa.

A consultora em desenvolvimento sustentável Elisabeth Laville, fundadora da Utopies, disse, em uma coluna do jornal Le Monde, que “o ponto de inflexão na ecologia está se aproximando”. Isso significa que quando 10% dos consumidores adota novos hábitos de consumo, acaba influenciando o restante para uma virada consciente. As grandes empresas de cosméticos já entraram ou entrarão no nicho ecológico. Em geral optam por um portfólio paralelo mais sustentável e modificam gradualmente as linhas e produtos. Isso exige do consumidor uma atenção redobrada em relação ao discurso. “Ainda assim, é importante ficar atento aos rótulos e órgãos regulamentadores para entender os componentes. Às vezes, quando um produto se diz desenvolvido com 90% de ingredientes naturais, pode acontecer de mais da metade ser água e sobrar pouquíssimo espaço para extratos naturais realmente inovadores”, diz Sonia.

Peeling em casa

Do inglês peel, peeling significa descamar e é um tratamento que remove as estruturas superiores da epiderme para transformar a superfície da pele. Uma das práticas mais delicadas do universo dermatológico, ficou por muito tempo restrita às clínicas e consultórios. Hoje as fórmulas evoluíram e podem, inclusive, ser aplicadas em casa. Segundo o dermatologista Daniel Coimbra, os tratamentos de efeito peeling podem ser divididos em quatro níveis. “O muito superficial, que não descama visivelmente; o superficial, que descama levemente; o médio, que fica com aspecto feio, queima um pouco e leva cerca de dez dias para cicatrizar; e por fim, o peeling profundo, que precisa ser feito dentro de ambiente hospitalar e é pouco indicado”. Explica. Daniel conta ainda que quando os lasers chegaram às clínicas, a incidência de peelings mais agressivos, como os de nível médio e profundo, diminuiu. Nesse cenário, surgem produtos que induzem a renovação celular por meio da remoção da primeira camada da pele. “Entre os compostos mais comuns e eficientes estão o ácido retinoico, ou derivados menos inflamatórios, como retinol ou retinoaldeído: o ácido salicílico; e o ácido glicólico – que para uso caseiro têm todos, baixas concentrações”, explica Daniel Coimbra.

Ainda que menos agressivos, esses tratamentos exigem cuidados quando aplicados em casa. “As peles sensíveis, por exemplo, podem reagir a componentes essenciais em fórmulas renovadoras, como o ácido retinóico”, alerta. Para escolher de maneira segura, as versões em séruns de cuidado noturno, aplicados todos os dias, promovem um resultado discreto, mas regular. Já as versões em máscaras desses ácidos devem ser usadas no máximo duas vezes por semana, já que são mais concentradas. O ideal é usar esses produtos à noite, para evitar a exposição solar, e suspender imediatamente se notar vermelhidão ou sentir qualquer ardência ou desconforto”. Além disso é muito importante lembrar que, mesmo dentro de casa, a pele exige proteção por conta da luz visível de dispositivos móveis.

Básicos e assertivos

É bem verdade que a rotina de cuidados com a pele extensa e detalhada das coreanas conquistou o ocidente nos últimos anos. Mas manter um cronograma que pode envolver até oito produtos diários é impraticável para a maioria das mulheres, mesmo as aficionadas por beleza. Com foco na praticidade, a indústria agora aposta em fórmulas minimalistas, mas mais poderosas. “Se antes o ritual de skincare previa várias etapas, agora, com fórmulas mais potentes são necessários menos produtos. Um sabonete e um sérum com alta concentração podem resolver o dia”, diz Karla Assed, dermatologista do Rio de Janeiro.

Queridinha Há algumas temporadas, a vitamina C é um dos ativos mais populares da indústria porque faz a reparação do colágeno e da elastina. Rica em antioxidantes, neutraliza os radicais livres gerados por exposição ao sol, estresse, poluição e ainda melhora a aparência de manchas de pigmentação (quando somada ao FPS). “Por ser mais leve, pode ser usada a partir dos 20 anos de forma preventiva contra linhas de expressão”, diz Leonardo Abrucio, dermatologista no Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo.

Outro ativo reconhecidamente potente é o ácido retinoico. Derivado da vitamina A, é mais encontrado na forma de pro-retinol ou retinaldeído nos cosméticos. “Ele estimula a renovação celular da epiderme, que diminui com a idade, e ajuda a sintetizar o colágeno, deixando a pele mais lisa”, diz Leonardo. Como há uma descamação das células mortas, depois de alguns meses de uso regular há uma ação visível nas manchas rugas e flacidez. Este ativo é o que mais exige cuidados e deve ser usado apenas à noite. para evitar a exposição solar, e acostumar a pele gradualmente. Já o ácido glicólico costuma ser indicado para peles oleosas e acneicas. “Ele desobstrui e fecha os poros, elimina as células mortas e reduz a incidência das manchas”, afirma Leonardo. Além disso, é calmante e anti-inflamatório. Por fim, o hit das novas fórmulas hidratante é o ácido hialurônico, naturalmente presente na pele, ele compõe os tratamentos de preenchimento – quando injetado – e hidratação. “Ao impedir a perda de água, o ácido hialurônico também hidrata, conforta e acalma a pele, especialmente as secas”, explica o dermatologista.

Fonte: Revista Marie Claire

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