No início de 2021 houve um aumento de quase 50% na procura por procedimentos estéticos, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). A entidade atribui esse crescimento ao maior tempo que as pessoas passaram nas redes sociais durante a pandemia. Esse fenômeno tem até nome: “Efeito Zoom”.
“Junto com o TikTok, Instagram e Facebook, o efeito das reuniões por vídeo fez aumentar a procura por mudanças estéticas no rosto, porque as pessoas começam a se ver mais e, pior, com uma lente muito ingrata que é a das videochamadas”, afirma Larissa Oliveira, médica dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e sócia titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
Dar um “zoom” na face pode ser como colocar uma lupa, lançando luz a pequenos defeitos que antes não incomodavam. “Com iluminação ruim, ângulos faciais que anteriormente não eram visualizados, as videoconferências, seja para trabalho, seja para entrar em contato com amigos e familiares, serviram para realçar algumas características faciais vistas como ‘defeitos’. Em especial a busca pela simetria facial”, diz Larissa. Para a médica, essa busca é errônea. “Às vezes o que pode ser considerado algo digno de correção na verdade é um grande charme”, analisa ela.
‘Rosto caído, cansado, triste’
No auge da pandemia, com grande parte da população dentro de casa, as redes sociais e plataformas de videoconferência registraram picos de acesso jamais vistos. “Se por um lado elas ajudaram a reduzir o isolamento social e facilitaram o aprendizado em cursos online, por outro, aumentaram as cobranças com a autoimagem e a busca pela selfie perfeita, conhecida como dismorfia das redes sociais —em especial o Instagram e o TikTok”, observa Larissa.
O aumento da exposição à câmera frontal de softwares e aplicativos permite uma maior observação da nossa mímica, proporções e contorno facial. “Queixas como ‘meu rosto é assimétrico demais’, ‘meu rosto está caído, cansado, triste’, ‘meu nariz é muito grande para meu rosto’, ‘minha boca é torta ou pequena demais’, se tornaram mais comuns na pandemia”, conta a profissional.
Foco nas olheiras
Existe uma busca principalmente pelos tratamentos nas regiões dos olhos. “Quando não tratada, a área traz para a face um aspecto envelhecido, cansado ou de nervosismo”, ressalta a dermatologista Cintia Cunha. As olheiras, por exemplo, trazem um ar de pessoa que não dorme ou que trabalha muito, que não tem uma boa disciplina na vida —o que não é verdade.
“A olheira pode ser resultado de uma reabsorção óssea natural do processo de envelhecimento que faz com que a região abaixo dos olhos fique mais funda. Muitas vezes os pigmentos sanguíneos grudam na pele e causam um aspecto arroxeado”, explica Cintia.
O impacto do TikTok
O TikTok tem impacto especialmente nas mulheres mais jovens, um público mais vulnerável em relação às cobranças externas e formação da autoimagem, segundo os especialistas. “É uma geração que já nasceu na era digital e que busca na mídia respostas para questões cotidianas e descontentamentos. Se imagens de corpos e rostos ‘perfeitos’ são veiculados e essas pessoas as veem repetidamente, começam a acreditar que é uma versão da realidade, e não alcançar tal ideal é motivo de frustração e insatisfação”, analisa Larissa.
Redes sociais como o TikTok e o Instagram estão fazendo as pessoas buscarem mais tratamentos. “Isso acontece principalmente por causa dos filtros, que fazem com que tenhamos uma ‘pele perfeita’, algo que não é possível, é inatingível!”, afirma Cintia. Outros pedidos? Nariz arrebitado, boca volumosa? “Precisamos trazer essas pessoas para a realidade”, diz a médica.
“É impossível ter uma pele completamente perfeita, sem poros e totalmente desenhada. Conectar essas pessoas à vida real tem sido o maior desafio dos consultórios médicos e dos dermatologistas, uma vez que manter a naturalidade é fundamental.”
Dra. Cintia Cunha, dermatologista.
Para complicar, no TikTok somos apresentados a alternativas “fáceis” e rápidas em vídeos com truques de beleza para aumentar os lábios, melhorar o contorno facial, hidratar a pele ou cachear os cabelos. “São estratégias que por vezes apresentam riscos de queimaduras, dermatites, alergias, além do incentivo à distorção da própria imagem”, alerta a médica.
Já o Instagram reitera um padrão de beleza com seus filtros cada vez mais aprimorados, que permitem que imperfeições, manchas e assimetrias desapareçam em instantes.
“É comum receber pacientes insatisfeitos com a própria imagem e que solicitam ‘a boca igual a da influencer X ou Y’ ou mesmo a busca por tratamentos estéticos para chegar ao efeito do filtro do Instagram ou do vídeo do TikTok.”
Dra. Larissa Oliveira, dermatologista.
Beleza instantânea
“Esse cenário criou a ‘Fast Beauty': as pessoas estão buscando uma beleza instantânea. Isso precisa ser acompanhado com muito cuidado, uma vez que os procedimentos rápidos podem trazer resultados exagerados ou artificiais”, alerta Cintia.
Segundo ela, a dermatologia avançou muito nos últimos anos, de maneira bem perceptível. “Hoje é possível tratarmos todas as camadas do rosto que vão envelhecendo com procedimentos minimamente invasivos, porém com resultados quase cirúrgicos. Isso porque existem ferramentas como ultrassom microfocado, bioestimuladores injetáveis, preenchedores, toxina botulínica e laser de superfície, que conseguem entregar resultados nunca antes imaginados”, diz.
Indicação precisa ser individual
Larissa observa que antes de indicar um tratamento estético é preciso identificar padrões de dismorfia, orientar sobre a importância da identidade facial e corporal, além de manter o respeito às características anatômicas e estéticas individuais. “Existem recursos estéticos, como preenchimentos com ácido hialurônico, toxina botulínica e fios absorvíveis que, se feitos por profissional habilitado, podem deixar um rosto menos assimétrico mais harmônico, além de melhorar o contorno facial e aumentar lábios, queixo e mandíbula de forma segura”, diz.
Ela enumera que os principais efeitos da pandemia na pele foram a acne, especialmente na área da máscara (a mascne), o tech neck (rugas no pescoço devido ao uso excessivo de telas), queda de cabelo por estresse ou pós-covid e alterações superficiais na pele, como perda de brilho, manchas e linhas finas.
Para melhorar a aparência da pele, que sofreu nesses dois anos de quarentena, a dermatologista indica tratamentos como skinbooster, microagulhamento, luz pulsada e Ulthera. “Cada paciente tem seu tipo de pele e merece ter a avaliação de forma individual. Esse é o ponto de partida para um tratamento bem-sucedido”, finaliza Cintia.
Fonte: Universa UOL | ´Efeito zoom`: uso Tiktok gera aumento na busca por cirurgias estéticas