Utilizado a mais de uma década como parceiro da boa aparência, a toxina botulínica encontrou este ano sua vocação mais nobre. Nos últimos quatro meses, quinze bebês com microcefalia foram submetidos a aplicações de botox para diminuir a rigidez dos músculos, e todos, sem exceção, já apresentaram resultados satisfatórios a partir da primeira sessão.
De acordo com o médico Epitácio Leite, ortopedista pediátrico da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), de Recife, e responsável pela aplicação da toxina nos bebês, a substância é usada em crianças que têm a malformação e que desenvolvem complicações ortopédicas ao longo dos primeiros meses de vida. São bebês que têm a musculatura rígida e por isso apresentam dificuldades para movimentar as articulações dos braços e das pernas. Depois da primeira aplicação, 100% das crianças tratadas com botox já apresentaram mais flexibilidade nos movimentos, uma vitória para a equipe médica e mais esperança para as crianças, já que o tratamento poderá evitar que essas articulações se atrofiem no futuro.
“Eu costumo registrar as crianças antes e depois da aplicação para comparar e já é possível perceber a diferença na musculatura do quadril e nos braços”, comenta Epitácio. Além de melhorar a flexibilidade das articulações dos bebês, o botox também tem o objetivo de tentar diminuir as medicações usadas pelas crianças. “Com as articulações mais flexíveis, a tendência é que os espasmos diminuam e, consequentemente, diminui também o uso de medicamentos para combatê-los”, esclarece o médico.
Um dos autores da pesquisa que ligou o vírus da zika à deformidade nas articulações, Epitácio Leite explica que a aplicação do botox não é feita nas crianças diagnosticadas com artrogripose, complicação desenvolvida ainda durante a gestação que também dificulta a flexibilidade das articulações. “Depois de avaliações, estamos aplicando somente nas crianças com hipertonia, condição de rigidez dos músculos que pode surgir após o nascimento”, explica o ortopedista.
Tratamento
A aplicação da toxina botulínica é feita após uma avaliação prévia das articulações da criança e geralmente não leva mais do que cinco minutos. Os primeiro efeitos podem ser percebidos já a partir do segundo dia e tem seu pico em até 30 dias após a administração.
Mais famoso nos consultórios de dermatologia e cirurgia plástica, as famílias das crianças estranham de início a recomendação do botox porque associam a substância ao tratamento de rejuvenescimento, mas quando o médico explica que o efeito do produto tem o mesmo objetivo em ambas as indicações, relaxar a musculatura, vão-se as dúvidas e fica apenas a esperança de uma melhor qualidade de vida para os bebês.
Além das respostas positivas aos estímulos motores e oftalmológicos durante as consultas, o médico espera que o tratamento com a toxina botulínica, em associação à fisioterapia, permita uma mobilidade básica às crianças, como sentar e andar.
As aplicações devem acontecer periodicamente, a cada quatro ou seis meses. O objetivo é avaliar a resposta das crianças e melhorar cada vez mais a flexibilidade das articulações. “Os bebês ainda são muito novos para passar por uma cirurgia para reverter esse quadro e o botox pode ser uma alternativa até que eles tenham a idade ideal para passar por um procedimento cirúrgico”, completa o médico.
Fonte:
Portal G1 – http://goo.gl/ASQ7c5